sexta-feira, 20 de janeiro de 2012



Um pouco de silêncio

por Lya Luft (*)


Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade. Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam. Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado. É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho. Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo - ou em trilhas determinadas - feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma. Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém - como se amizade ou amor se "arrumasse" em loja. Com relação a homem pode até ser libertário: enfim só, ninguém pendurado nele controlando, cobrando, chateando. Enfim, livre! Mulher,não. Se está só, em nossa mente preconceituosa é sempre porque está abandonada: ninguém a quer.

Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema. O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.

Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?

No susto que essa idéia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração. Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso.

Com medo de ver quem - ou o que - somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras. Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre - em si e no outro - regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.

Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse:

-Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.

E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.

Então, por favor, me dêem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.


(Extraído do livro Pensar é Transgredir)


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

E me vem alguém dizer: Vá em frente, não desista!
E ouço essas palavras com tamanha fé em acreditar que tudo que sinto vale a pena, e vale.
Vale a pena sentir intensamente, querer intensamente, sofrer intensamente, sim, sofrer intensamente... Acredite, cicatriza e purifica, seja lá por qual motivo for.

O não entender talvez seja o mistério que me prende, me fascina.. O ser humano nunca está satisfeito, por isso é efêmero a sensação de se sentir completo.
E não, não quero ter a certeza do que já sei.

Tem momentos na vida que não sabemos onde vamos, apenas vamos... vamos sentindo, vamos doando e vamos.... mas para onde? E alguém quer saber pra onde quando tudo está bem? Só queremos ir...

Lapidar é a palavra certa. Lapidar os sentimentos, lapidar as ações para que a entrega seja bem recebida.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Engraçado como eu sempre volto a esse cantinho quando preciso analisar melhor a minha concepçao de vida... acho que pq aqui sim, posso falar sem pudor o que penso sobre minhas experiências e sobre as experiências alheias, sem precisar me limitar a interpretações errôneas.

Nada como um papel, blogger ou travesseiro para dividirmos pensamentos, afinal, eles não mentem, não julgam e nem muito menos gostam de brincar de telefone sem fio... (brincadeira engraçada mas que dá uma confusão...)
E se alguém se sentir julgado com o que "quer" ler aqui, acredite, não foi culpa do que pensei.

E tenho visto muito coisa últimamente...

Acho que falar tudo que ando vendo não é nem um pouco legal, exatamente por tomar consciência mais uma, de tantas vezes, de que o silêncio é precioso.
Apenas observar e deixar que os erros alheios ensinem meus erros a serem mais cautelosos... contraditório? Precaver-se não necessariamente evita de errarmos, afinal, isso faz parte do ser humano e não há dicionário no mundo que traduza nossos instintos.

Mas é curioso o comportamento de algumas pessoas, e no mínimo, nos serve pra aprendermos a não valorizar certas coisas como a sociedade quer nos influenciar pra que tenhamos outra ótica do que nossos velhos pais quis tanto nos ensinar. Ou não?!

Tenho visto a expressão eu te amo, sendo pronunciada igual a um mero: obrigada!
Desse jeito, no automático!
Do jeito que os pais ensinam aos filhos em conjunto com as fundamentais regras básicas de boa educação.
Por isso tenho que corroborar com uma frase que diz: "Não vulgarize o verbo amar."

Mas pra uma sociedade hipócrita, vulgar mesmo é quem se deita na cama de outrem e sai sem ser "educado".